domingo, 5 de junho de 2011

CAPÍTULO I – O INÍCIO DA CRECHE



HISTÓRICO
Madre Camila era uma freira italiana que, vindo como missionária para o Brasil, impressionou-se com a miséria e o abandono das crianças no nosso país. Era freira da Congregação das Filhas de Nossa Senhora do Sagrado Coração. Aqui chegou em 1940 e, por não querer deixar seu trabalho em São Paulo e voltar para a Itália, desligou-se da Congregação em 1950.
Teve que trabalhar como doméstica para poder se sustentar, mas não deixou de fazer o trabalho de evangelização e assistência. Em 1955, uniu-se a uma outra freira e começou uma casa de assistência às crianças carentes, na Vila Olímpia. Ao ser despejada da casa em 1967, foi para uma humilde casinha, emprestada a ela pelo pároco da igreja de Nossa Senhora Aparecida, na Vila Carioca, no bairro do Ipiranga.
No início dos anos 70, Níria Guimarães Ramos penalizada com as dificuldades de Madre Camila, que cuidava sozinha de 26 crianças, decidiu ajudá-la. Levou a ex-freira para a casa onde hoje é a sede da entidade, Rua Frei Paulo de Sorocaba, 164. As pessoas do bairro passaram a cooperar com ela e a situação das crianças melhorou. Mas, no início de 1975, Madre Camila sofreu um derrame e ficou impossibilitada de continuar sua obra.

Testemunho de Níria Guimarães Ramos

"Quando entrei naquele barraco de favela e vi aquela senhora, com uma grande aura de santidade, cercada pelas crianças que ela amava, compreendi que tinha sido Deus que me havia conduzido para lá e que eu teria a missão de ajudá-la"

1 – A CONSTITUIÇÃO



No início do ano de 1976, um grupo de jovens que se reunia no Colégio Anchietanum (dos Jesuítas), no bairro do Sumaré, na cidade de São Paulo, foi convidado a passar o dia numa confraternização com jovens de outros bairros. Esta se realizou num clube de golfe do bairro do Jaguaré. Quando a confraternização terminou, havendo sobrado muito alimento, os jovens do Anchietanum resolveram perguntar se tinha um asilo ou orfanato por perto. A pergunta foi feita numa padaria que fica na esquina da Avenida Corifeu de Azevedo Marques com a Rua Frei Paulo de Sorocaba. A resposta foi que naquela mesma rua havia uma creche que estava passando por necessidades. Ao se dirigirem a esta creche, os jovens ficaram impressionados com o estado de abandono das crianças e da casa.
Ao chegarem de volta ao colégio, encontraram um sacerdote reunido com diversos casais para uma reflexão da Bíblia. Os jovens sugeriram aos casais que fossem visitar a creche, que estava precisando muito de ajuda.
Eles foram e constataram que a fundadora, Madre Camila, havia sofrido um derrame cerebral e, por estar toda paralisada, tinha sido levada para um asilo em Divinópolis (Minas Gerais).
A creche tinha ficado nas mãos de duas empregadas domésticas que ajudavam a freira. Estas eram pessoas muito simples e uma estava bem desequilibrada mentalmente e teve que ser internada na psiquiatria do Hospital das Clínicas. Por estas limitações e sem ajuda financeira, elas não estavam conseguindo cuidar direito das crianças. As crianças órfãs tinham sido retiradas pela Assistência Social municipal e muitas mães retiraram seus filhos. Só ficaram cerca de quinze crianças, cujas mães eram empregadas domésticas e moravam com os patrões, que não queriam as crianças em suas casas.
O prédio estava em péssimo estado de conservação e a água usada era de um poço que estava contaminado. As crianças estavam desnutridas, anêmicas, com verminose, piolhos e sarna. Faltava comida, móveis, utensílios e roupas.
O grupo de casais se organizou e, no dia 13 de maio de 1976, realizou uma Assembléia Geral para a constituição oficial da “Creche Madre Camila”. A ordem do dia da assembléia era a leitura, discussão e aprovação dos estatutos, a eleição da primeira diretoria e do conselho fiscal (para um biênio).
Com exceção do presidente, todos os outros membros da diretoria e do conselho eram pessoas da comunidade do Sumaré.
A diretoria foi assim constituída:
Presidente – Antonio Costa Galvão; Vice-presidente – Maria da Gloria Penna Kondziolka; 1ª Secretária – Maria Antonieta Fanelli de Almeida Campos; 2ª Secretária – Maria Enid Penteado Buschinelli; 1ºTesoureiro – Custódio F. R. de Aguiar Vas; 2º Tesoureiro – Inês Aparecida de Aguiar Vas; Diretor social – Felix Saverio Majorana; Diretor de patrimônio – Lineu Marcos Otoni.
No Conselho Fiscal estavam os efetivos Nelcy José Otoni, Maria Celeste Otoni e Suely Campos Otoni e como suplentes José A. Buschinelli e Ma. Helena Brandão Majorana.
A primeira secretária salientou na ata que foi o espírito cristão que moveu esse grupo de pessoas a amparar e dar formação aos menores desprovidos de recursos.

Depoimento de Antonio Costa Galvão

"A creche aconteceu como quase todas as coisas na minha vida, sem esperar. Nós já estávamos em casa, praticamente dormindo, quando tocou o telefone e eram os nossos compadres Maria Enid e Buschinelli. Eles me perguntaram se eu queria ser presidente de uma creche falida. Quando eu fui conhecer a creche só pensei que precisava ajudar. Só via as dificuldades e o que tínhamos que fazer. Por que se eu fosse medir as dificuldades, eu não teria aceito."

Depoimento de Teresa Galvão

A minha participação na Creche Madre Camila: Eu comecei a freqüentar a Creche depois do Galvão assumir a presidência. No começo tivemos muito trabalho. Crianças e funcionários doentes, água de poço, legalização da Creche, prédio com problemas, etc. Com ajuda da diretoria e de amigos fomos conseguindo resolver os problemas. Fizemos muitas campanhas para arrecadar fundos. Quando foi possível desenvolvemos um trabalho com as mães e as crianças. Uma vez por mês fazia palestras para as mães orientando-as no seu relacionamento e planejamento familiar, noções de higiene etc. Às vezes trazia outros palestrantes. Numa viagem a Belo Horizonte, fomos a Divinópolis visitar Madre Camila que morava em uma casa de repouso. Levamos fotografias da creche e das crianças para ela ver que a obra, por ela iniciada, estava continuando. Ficamos muito emocionados com essa visita e Madre Camila apesar de enferma queria voltar para São Paulo e para a Creche. Fiz parte da diretoria como secretária e membro do conselho fiscal. Uma vez por semana dava aula de catequese para as crianças maiores. Em 2000 mudei para Rio das Pedras. Apesar da distância, ainda freqüentei algumas reuniões e festas no fim do ano, mas os compromissos assumidos aqui em Rio das Pedras me impossibilitaram de viajar sempre. A creche faz parte da nossa vida, portanto, mantemos contacto com todo o pessoal de lá.
Sabemos da suas alegrias e problemas e, sempre que possível, ajudamos no que for preciso. A EXPERIÊNCIA DO TRABALHO ADQUIRIDO NA CRECHE MUITO ME AJUDOU NA MINHA ATIVIDADE SOCIAL. AQUI EM RIO DAS PEDRAS.

2 – ENFRENTANDO AS DIFICULDADES

A diretoria passa a freqüentar a creche para ir fazendo um reconhecimento da situação e ir priorizando os itens mais importantes para o bom funcionamento da creche.
Ficou estipulado, já que a entidade não tinha nenhuma espécie de convênio público ou ajuda particular, que seriam os próprios sócios fundadores que manteriam a creche. De início, cada um daria Trezentos Cruzeiros e depois passariam a dar Cinqüenta Cruzeiros mensais. Cada sócio fundador deveria arrumar outros sócios contribuintes.
Outra prioridade foi entrar em contato com a proprietária do imóvel, Níria Guimarães Ramos, para pedir uma prorrogação do contrato de comodato.
Havia necessidade de vários móveis e utensílios domésticos e era preciso reformar a casa. As reformas mais urgentes eram o fechamento da fossa, a ligação dos canos de água e esgoto, a reforma da rede elétrica e hidráulica, a reforma do telhado, a adaptação da edícula para ser a moradia da nova governante contratada e a pintura do prédio todo.
Algumas diretoras e voluntárias assumiram a tarefa de fazer um acompanhamento do funcionamento da creche e as compras semanais necessárias.
No dia onze de agosto de 1976, o conselheiro espiritual da entidade, Pe. Walmir Brandão celebrou a primeira missa nas dependências da creche, pedindo as bênçãos de Deus para as crianças e a instituição.
O número de crianças começou a crescer e, como a creche só tinha uma governante, uma cozinheira e uma faxineira, não havia quem desse uma atenção maior para as crianças e organizasse atividades recreativas e pedagógicas.
Depois que foram tratados os assuntos mais urgentes referentes aos cuidados com a saúde e alimentação das crianças e aos cuidados com a casa e equipamentos, constatou-se que a creche era somente um depósito de crianças.
Essa não era só a situação da creche Madre Camila. As creches particulares conveniadas coma Prefeitura começaram a existir na década de setenta e, por isso, nem as entidades e nem a Prefeitura sabiam bem como deveria funcionar uma creche.

Depoimento de Maria Enid


Éramos cinco casais de visinhos do Colégio Anchietano Jesuíta no bairro Sumaré em São Paulo, onde costumávamos ter uma reunião semanal sob a direção do padre José Marcos de Faria, para leitura e estudo da Bíblia e meditação. Certo dia chegaram uns rapazes do bairro Jaguaré, em nossa reunião e nos lançaram um curioso desafio: “Vocês que são cristãos, sabem rezar e meditar em conjunto,o que fazem de concreto pelos necessitados?” E então contaram sobre uma freira: madre Camila, que se dedicava a cuidar de crianças numa creche improvisada. Por ter ficado muito doente teve de voltar para o Convento, deixando as crianças a mercê de uma das mães, que infelizmente sofria de problemas psicológicos. Estavam até passando necessidade. Então nós; Orlando e Antonieta, Domingos e Conceição, José Marques e Ester, José e Maria Enid convidamos Galvão e Teresa e aceitamos o desafio. Sempre com o apoio do padre Brandão. Pusemos mãos à obra. Logo compramos com bastante esforço e reformamos a casinha que estava muito estragada e cuja proprietária a reclamava de volta. Hoje, graças a Rosa Maria Zucollo, Rosa Domingues e outras abnegadas, a missão da Creche continua sempre e cada vez melhor. Que Deus as abençoe e proteja para seguirem firmes nesta meritória missão. 

3 – PIONEIRISMO EDUCACIONAL


A voluntária Rosa Maria Rossetti Zuccolo começou a freqüentar a creche semanalmente em meados de 1976. Ela fazia recreação com as crianças e logo percebeu que elas não sabiam brincar. Preocupada com a violência de algumas e a apatia de outras, começou a levar jogos e brinquedos e organizou um calendário de atividades recreativas a serem feitas com as crianças. Ela se preocupou, também, com o fato de que havia crianças que já freqüentavam a escola e estavam com dificuldades no aprendizado e outras que já deveriam estar fazendo uma pré-alfabetização. Então, convidou uma pedagoga para ajudá-la, sua prima Sônia Maria Berardi Savarezze. Esta introduziu atividades pedagógicas e de acompanhamento escolar. Foi um pioneirismo da entidade, pois as creches não tinham atividades recreativas e pedagógicas na sua programação normal.
Em 12 dezembro de 1976, foi realizado o primeiro Natal da creche. Teve missa, representação das crianças, comida e presentes para todas as crianças.
Havia um problema que foi preocupação da diretoria desde o início, era o abastecimento da água. Só em março de 1977 é que a Sabesp fez a ligação da água, eliminando assim o uso do poço, que estava contaminado. Neste mesmo mês, foi iniciada uma programação de encontros de orientação com as mães das crianças. Foi a vice-presidente que assumiu a tarefa.
Em abril do mesmo ano, foi feita a primeira alteração do estatuto e providenciada toda a documentação necessária para a matrícula da creche na Secretaria do Bem Estar Social da Prefeitura. Foi feita, também, a elaboração do primeiro plano de trabalho anual. No dia 30 de junho de 1977, foi publicada no Diário Oficial do Município a concessão de registro da entidade na Secretária do Bem Estar Social da Prefeitura de São Paulo. O número do processo foi 08-77. No exercício seguinte começamos a receber o per-capita para trinta crianças. Enquanto não estávamos recebendo o dinheiro da Prefeitura, e mesmo depois, a situação financeira da entidade era deficitária. As dificuldades da diretoria eram grandes. Com a graça de Deus, no dia 25 de novembro de 1977 um grupo de senhoras da comunidade de Santo Ivo, tendo como madrinhas as senhoras Rosa Maria R. Zuccolo e Célia Lauretys, organizou um grande bazar beneficente, cuja renda veio ajudar a amenizar o déficit financeiro e permitiu fazer a festa de Natal das crianças.
O ano de 1978 começou cheio de preocupações pela situação financeira e pelo fato de que o contrato de comodato da creche acabaria em maio e a diretoria não dispunha de verba para pagar um aluguel.
Na reunião de fevereiro, foi apresentada uma assistente social, Maria Cecília Castro da Purificação, que se ofereceu como voluntária e depois se transformou num enorme problema para a entidade. Ao ser dispensado, em agosto de 1979, moveu a primeira ação trabalhista contra a creche.
Quando a diretoria assumiu a creche, ela funcionava como um internato semanal. As mães só passavam o dia de domingo com os seus filhos. As técnicas da Prefeitura recomendaram que as mães devessem ficar mais tempo com seus filhos e a entidade deveria, gradativamente, ir passando algumas tarefas para elas, como as tarefas escolares e o cuidado com as roupas. Recomendaram ainda que fossem feitas matrículas só com crianças do bairro do Jaguaré e estas novas crianças matriculadas não poderiam dormir na creche.
Para atingir essas metas, foram feitas reuniões mensais com as mães das crianças. Nelas era feita uma formação pessoal e falava-se da relação delas com os filhos e delas com a sociedade. Aos poucos, os resultados foram sendo sentidos.
Em março de 1978 a creche teve publicado o seu convênio com a Secretaria da Promoção Social do Estado.
No dia 15 de maio de 1978 foi feita a assembléia geral para eleição da nova diretoria e do conselho fiscal. A diretoria ficou assim constituída:
Presidente – Antonio Costa Galvão; Vice-presidente – Renato Mattos Zuccolo; 1ª Secretária – Ma. Antonieta F. A. Campos; 2ª Secretária – Sônia Ma. B. Savarezze; 1º Tesoureiro – Custódio F.R. de Aguiar Vas; 2º Tesoureiro – Inês A. Aguiar Vas; Diretora Social – Rosa Maria Rossetti Zuccolo; Diretor de Patrimônio – José A. Buschinelli.
Conselho Fiscal – Efetivos: João Peres, Nelcy Otoni e Rosa D. Miguel.
Suplentes: João Frattini e Ma. Enid Buschinelli. Era mandato para um biênio.
As metas dessa diretoria eram a compra da sede, a conclusão da papelada necessária para a obtenção das declarações de Utilidade Pública e a busca de pessoas da comunidade que se interessassem em assumir a creche.
Devido ao fato do não recebimento da verba da Prefeitura (ela só veio no início de 1979), a entidade dependia exclusivamente das mensalidades dos sócios fundadores e dos sócios contribuintes e tinha problemas para receber as mensalidades. Resolveu, então, se filiar à Federação das Obras Sociais (FOS) para que esta realizasse as cobranças.

Testemunho de João Peres e Peres



"Cheguei até a creche pelas mãos do José Anito Lourenço. Nós éramos paroquianos da igreja São Francisco. Ele já era da diretoria da creche e vieram fazer o convite para eu fazer parte da mesma diretoria. Acredito que a minha participação importante foi na legalização da documentação. Trabalhei no reconhecimento da entidade perante os órgãos Federal, Estadual e Municipal. Consegui os certificados de fins filantrópicos e outros documentos importantes."        

4 - A SEDE PRÓPRIA

Em agosto de 1978, foi formada uma comissão para tratar a compra do imóvel onde funcionava a creche. Esta comissão era composta por Rosa Maria R. Zuccolo, João Peres e José Buschinelli. Além dos contatos e da negociação com a proprietária do imóvel, ela deveria organizar promoções para conseguir o dinheiro necessário.
A proprietária pediu a quantia de $600.000 (Seiscentos mil cruzeiros). Daríamos, em outubro de 1978, os duzentos mil cruzeiros que tínhamos como entrada e o resto seria pago em prestações até meados de 1979 (a escritura é de 26/03/79). Para pagarmos as prestações, foram feitas muitas festas e promoções e passado um livro de ouro.
No processo da compra da casa, o Dr. Carlos Alves Gomes foi de grande ajuda e ele e seu escritório de advocacia continuam nos representando gratuitamente em todos os processos, até hoje.
Depois de terminado o pagamento da casa, começamos a fazer as reformas necessárias. Era preciso trocar o telhado, reforçar os muros, consertar a despensa, tocar toda a fiação elétrica e trocar o portão.
Em janeiro de 1979, começamos a receber o per-capita da Prefeitura. Neste mesmo mês, por ter sido dispensada a governante, foi contratada uma administradora, Naifa Ma. Ortega Rufatto, que permaneceu conosco até o ano de 2001 e foi de grande ajuda para o desenvolvimento da instituição. O amor que ela sempre teve pelas crianças e pela creche eram admiráveis. Nunca a esqueceremos, nem como pessoa e nem como funcionária exemplar que sempre foi.
Devido ao aumento de funcionárias (oito) e de voluntárias (oito), ficou estabelecido que a Diretora Social, Rosa Maria R. Zuccolo, além da parte social ficaria encarregada da parte funcional. Todas as falhas no funcionamento da creche ou os problemas com funcionárias e voluntárias deveriam ser encaminhadas a ela e esta trataria do assunto com a administradora.
Em meados de 1979, firmamos convênio com a LBA.
Em 1979, começou a contribuir com o seu trabalho em prol da entidade o Sr. Aldo Rossetti (pai da Rosa Ma. Rossetti Zuccolo), assumindo a parte contábil e financeira (voluntariamente). Ele permaneceu até o ano de 1986 e foi de enorme ajuda para o saneamento das finanças da entidade. A ele todas as homenagens e agradecimentos da Creche Madre Camila.
Em outubro de 1979 ficou pronto o primeiro Regimento Interno. Em 26 de outubro desse mesmo ano, foi publicada no Diário Oficial do Estado a declaração de Utilidade Pública Estadual da Creche Madre Camila, graças ao empenho do deputado Célio dos Santos. No fim desse mesmo ano, fomos declarados de Utilidade Pública Municipal.
Terminamos 1979 atendendo sessenta crianças entre 02 e 07 anos e cinco crianças com mais de sete anos. Só em agosto de 1980, a Prefeitura passou a nos pagar o per-capita para sessenta crianças.
Em 1980, passamos a não atender mais crianças em regime de internato. Todas as crianças eram atendidas em regime de semi-internato, das 07h30min até as 18h00min horas.

Depoimento de Osvaldo da Silva

"Quando chegou o fim do ano, nós estávamos com muitas dificuldades financeiras. Como eu fazia parte do conselho paroquial da Paróquia de São Francisco, conversei com pároco que tipo de ajuda poderia obter para a Creche. Ele me disse: 'Vá falar com o bispo, ele pode te orientar para você conseguir uma ajuda da Caritas.'. Fui conversar com ele e ele me repondeu: 'Vou verificar e lhe darei uma resposta daqui a alguns dias. Vou submeter esse pedido aos outros membros do setor Lapa.'. Alguns dias depois ele telefonou e disse: 'Infelizmente a Creche não pode fazer pedido à Caritas por que ela não é vinculada a paróquia nenhuma.' Foi sempre assim, quando mais a Creche precisou, não pôde contar com Instituição nenhuma."

CAPÍTULO II – O ESFORÇO DEVE CONTINUAR




1 – AS DIFICULDADES INICIAIS FORAM SENDO SUPERADAS
Em 12 de maio de 1980, foi eleita nova diretoria:
Presidente – João Peres; vice-presidente – José Buschinelli; 1º Tesoureiro – Aldo Rossetti; 2º Tesoureiro – Délcio Dalarco (que pediu p/ sair no fim de 1980); 1º Secretário – Moacyr Bulgatti; Diretora Social – Rosa Maria R. Zuccolo; Diretor  de Patrimônio – José Cláudio Marani.
Conselho Fiscal. Efetivos: Nelcy Otoni, Antonio Galvão e Moisés Maschio. Suplentes: Custódio Vas e José Roberto Pereira da Silva.
Em abril de 1980, a entidade “Creche Madre Camila” foi solicitada pela Secretaria do Bem Estar Social a dar suporte e a assumir a diretoria da creche da favela de São Remo (no Rio Pequeno). Essa creche ficava dentro da favela de São Remo e abrigava, muito precariamente, 35 crianças. A luta da nova diretoria para levar avante a creche foi insana. A insegurança, os furtos, as ameaças dos traficantes, os problemas financeiros e o fato do salão da creche servir, também, para festas, reuniões e outros eventos, foi tornando impossível à empreitada. A creche foi fechada em dezembro de 1980 (mais tarde, foi reaberta).
Em setembro de 1980 foi firmado o convênio com o PRONUTRE, do governo do Estado, que passou a favorecer a Creche Madre Camila com mantimentos não perecíveis, a cada bimestre. Este convênio foi encerrado em abril de 1983.
Desde seu início a entidade teve muita dificuldade em contratar funcionárias com aptidão para cuidar e educar crianças de pré-escola.
Eram as diretoras Rosa Maria R. Zuccolo e Sônia Maria B.Savarezze e a administradora Naifa Rufatto que se encarregavam de formar as novas funcionárias. A partir do início de 1980, além da formação individual das novatas, passou-se a programar um dia por mês para ser feita a formação coletiva e a discussão dos problemas de funcionamento. Para tanto foi necessário que se solicitasse às mães que, nesse dia, não trouxessem as crianças. As técnicas da Secretaria da Prefeitura, quando informadas, não aceitaram. Porém, depois de comparecerem algumas vezes ao dia de formação não só aprovaram como passaram a aconselhar outras entidades para fazer o mesmo. Mais tarde, por decreto, todas as entidades conveniadas passaram a fazer o dia de formação. Outra vez, a Creche Madre Camila foi pioneira. 

Depoimento de Naifa Ortega Ruffato

Comecei na creche no final de 1978, o começo foi muito difícil, pois eu não tinha nenhuma prática somente boa vontade. Foi preciso conquistar a confiança dos funcionários. Com muita garra consegui me fazer respeitar pelas funcionárias, pela diretoria e pelas crianças. Fazia um pouco de tudo, ajuda no banho, na comida e na limpeza, até dava aula. Mas tarde começamos a contratar mais funcionários, na área da cozinha e pedagogia. Recebi todo apoio da diretoria, mas eles só vinham alguns dias da semana e ficavam algumas horas. Com o tempo aquilo que era tão difícil se tornou a minha vida, eu vivia para a creche madre Camila. A instituição era tudo para mim e as crianças eram a melhor parte. Os diretores me ajudaram muito e começaram a entrar funcionárias que tinham a mesma proposta que a gente, isto é, dar amor as crianças, esse sempre foi o foco principal. Tive também muita ajuda e respeito ao diretor Senhor Aldo Rossetti, ele foi muito importante na minha vida, me ensinou quase tudo que sei. Os outros também foram amigos e companheiros e me respeitaram muito. Comecei a ser mais respeitada no bairro por causa da creche. Meu trabalho sempre foi aberto a toda comunidade, todos podiam ver como as crianças eram tratadas. Por todo esse respeito e admiração que recebi, agradeço muito a creche, as crianças, mães, diretoria e prefeitura. A creche cresceu e passou a ter dois núcleos, chegamos a um total de 230 crianças. Essas entravam e saiam, mais o meu amor permanecia. As crianças me realizaram como pessoa. O carinho delas me fez feliz e realizada. Se eu tivesse que começar tudo de novo, faria a mesma coisa, pois o que deu certo não se mexe. Trabalhar na creche foi a melhor parte da minha vida. Agradeço as crianças e a todos que trilharam esse caminho.  

2 – E AS CRIANÇAS NÃO PARAM DE CHEGAR



Os anos iniciais da creche foram anos de muitas dificuldades, problemas com as crianças e suas famílias, problemas com funcionárias, com a precariedade das acomodações, com a falta de equipamentos e materiais, com a falta de preparo de diretores e funcionárias para cuidar e educar as crianças e, principalmente, com a falta de dinheiro. Porém, a diretoria não se deixou abater com os inúmeros problemas. Havia muita união e uma enorme boa-vontade de se doar e ir prosseguindo na caminhada. Todos faziam um pouco de tudo, desde contribuir financeiramente até trabalhos de pintura, pequenos consertos, compras, reuniões com órgãos públicos e privados, e promoções para arrecadação de dinheiro para a creche.
A partir de 1980, o pessoal do Sumaré foi se afastando da diretoria e pessoas do Jaguaré foram entrando.
Em janeiro de 1981, tivemos as primeiras férias coletivas das funcionárias da creche.
Em outubro deste mesmo ano assinamos com a Prefeitura o aditamento para mais dez crianças, passando de 60 para 70 crianças.
O grande empenho da diretoria e a experiência contábil, financeira e administrativa do Sr. Aldo Rossetti conseguiram bons resultados. A partir de 1981, começamos a conseguir equilibrar receita e despesas, o que foi motivo de grande satisfação e alívio para todos.
No começo de 1982 passamos de 70 para 93 crianças.
No dia 10 de maio de 1982 foi eleita a nova diretoria e conselho fiscal, que ficaram assim constituídos:
Presidente - João Peres; Vice-presidente – Moacyr Bulgatti; 1º Secretário Franklin Bueres; 2º Secretário – Sônia MariaB. Savarezze; 1º Tesoureiro – Sérgio Corrêa; 2º Tesoureiro – Luiz Oliveira; Diretora Social – Rosa Maria R. Zuccolo; Diretor de Patrimônio – José Anito Lourenço.
Conselho – Efetivos: Moisés Maschio; Thereza M. Galvão, Edson Cristini.
Suplentes: Antonio Galvão e Nelcy Otoni.

3 – O TRABALHO COM OS MENORES DE 07 A 14 ANOS


Em 1982, esgotadas várias tentativas para manter as crianças de mais de sete anos na creche e não havendo ainda uma perspectiva segura da abertura de um novo núcleo para abrigar menores de sete a catorze anos, foi resolvida a dispensa dos maiores de sete anos.
Porém, após localizar um terreno da Prefeitura nas proximidades da creche (na Av. Gal. Mac Arthur), iniciamos um processo de obtenção do uso do terreno, para nele construirmos o núcleo de Centro da Juventude.
O processo de uso do terreno só foi concluído em setembro de 1984, através do decreto nº 20150, publicado no Diário Oficial do município no dia 14/09/1984.
No fim deste mesmo ano iniciamos a construção do prédio. O fizemos com muita coragem e fé em Deus, já que o prédio tinha sido orçado em duzentos e vinte milhões de cruzeiros e nós só tínhamos quarenta milhões.
Foram muito importantes na realização dessa obra a construtora Admo (do Sr. Duarte Espíndola), o engenheiro Antonio Galvão, o engenheiro Renato M. Zuccolo e o arquiteto Geraldo Lacerda. O prédio ficou pronto em maio de 1986. Dentre as muitas pessoas que nos ajudaram e as muitas promoções que fizemos, gostaríamos de assinalar a contribuição do governo do Estado, através do CEAS, de cinqüenta milhões para a compra de equipamentos para o novo prédio. A fábrica de vidros Vidromar doou todos os vidros.
Quando começamos a obra, entramos com o pedido de convênio de Centro da Juventude para 100 menores. O prédio ficou pronto e o convênio não havia saído. Diante dos problemas gerados pelo fato do prédio permanecer vazio e fechado vários meses (ameaça de invasão, pichação, depredação, etc.), resolvemos levar a creche para o prédio novo (julho de 1986) e fazer uma reforma e ampliação no prédio da Rua Frei Paulo de Sorocaba. Construímos um prédio de dois andares com 250 m², onde era a antiga edícula, com quatro salas de aula, dois banheiros coletivos para as crianças e um lavabo social. Pintamos e fizemos a manutenção da sede.
Em dezembro de 1986, fizemos a grande festa de inauguração do novo prédio da Av. Gal. Mac Arthur. Houve missa celebrada por Frei Eduardo e Pe. Paulo, muita alegria, comes e bebes.
Em agosto de 1987, assinamos o convênio para 100 menores de 07 a 14 anos e um aditamento para a creche.
Os pequenos, agora em número de cem, voltaram para o prédio da Rua Frei Paulo de Sorocaba 164 (setembro de 1987) e os cem menores do Centro da Juventude foram alojados no novo núcleo da Avenida Gal. Mac Arthur 1450.
Depois de cinco anos atendendo menores de sete a catorze anos, com muita luta e enumeras tentativas de mudanças no seu funcionamento, a diretoria, funcionários e comunidade chegaram à conclusão de que não estávamos atingindo nenhum dos objetivos a que nos propuséramos no início do projeto.
O programa proposto pela Secretaria do Bem Estar Social da Prefeitura, composto de alimentação, acompanhamento escolar, artesanato e lazer, é bom para a faixa etária até dez anos. Com os mais velhos é necessária muita atividade esportiva e recreativa e oficinas diversas.
Tentamos montar algumas oficinas, mas a verba do Centro da Juventude é ainda menor que a de creche e mal dava para a alimentação e folha de pagamento. Tentamos conseguir uma parceria com a iniciativa privada e o poder público, mas não conseguimos nada.
Diante do desinteresse, agressividade e indisciplina dos adolescentes, a grande rotatividade dos funcionários e os grandes problemas financeiros, não vimos outra saída se não rescindirmos o convênio de Centro da Juventude. Isso se deu no dia 30 de dezembro de 1992.
Como tínhamos o prédio, funcionários e equipamentos, decidimos pedir para a Prefeitura um aditamento para mais cem crianças na faixa etária de dezoito meses a sete anos. Começamos esse novo núcleo de creche em fevereiro de 1993.

Depoimento de Sônia Maria Berardi Savarezze

Numa tarde de 1976, minha prima Rosa Maria Rossetti Zuccolo me convida para visitar uma creche em Osasco.
Fui a tal creche, quando Lá cheguei encontrei uma casa caindo aos pedaços e as crianças que Lá estavam eram simplesmente olhadas (davam comida e banho) por aquelas pessoas simples (empregadas domesticas) , algumas não sabiam nem ler.
Tinha acabado de me formar na faculdade e me casar, estava cheia de sonhos e vontade de mudar o MUNDO. Sou a caçulinha e fui criada dentro de uma GAIOLA DE OURO, alienada as misérias do mundo.
No primeiro momento fiquei muito assustada com tudo que estava vendo.
Mas resolvi sair do casulo em que vivia onde tudo era camuflado, meus Pais e Irmãos sempre tentaram me preservar, pensando que nunca teria que enfrentar e realidade da vida.
Sai da GAIOLA em que vivia e tentei fazer algo de produtivo por aquelas crianças, então comecei por em pratica tudo o que aprendi na faculdade.
Foi ai que a minha vida começou a ter sentido e pude perceber que não era uma pessoa tão frágil que não pudesse fazer algo pelo meu próximo.
Reconheço minha fragilidade, insegurança, arrogância, e que ainda tenho muito que aprender com minha prima Rosa Maria que admiro muito porque é um exemplo de simplicidade, humildade, ponderação, sabedoria e que após tantos anos de trabalho duro continua a frente dessa instituição.
Fiquei alguns anos afastados da instituição, após ficar viúva, minha prima Rosa Maria me chamou para a missa que seria celebrada pela inauguração da nova creche (derrubaram a casa velha), ai voltei.
Hoje (março de 2011) posso dizer que sou uma mulher bem sucedida, e de bem com a vida. Isso tudo devo ao anjo bom chamado Rosa Maria que Deus, pôs em minha vida.

4 – FECHADO OS PARÊNTESES DO CENTRO DA JUVENTUDE, VOLTAMOS A 1983.

Em novembro de 1983, recebemos com júbilo a notícia que a entidade tinha sido declarada de Utilidade Pública Federal.
Em dezembro de 1983, a diretora social iniciou o costume de oferecer às funcionárias um almoço de confraternização para agradecer o bom desempenho delas durante o ano.
De 1976 até 1983, os pais das crianças contribuíam com uma taxa mensal.
A diretoria da entidade considerava que essa contribuição não só era necessário, como era educativa (a educação dos filhos era, também, responsabilidade dos pais). A partir de 1994, a Secretaria do Bem Estar Social orientou a eliminação dessa taxa. Os pais que quisessem continuar contribuindo o fariam através de carnês do Banco Bradesco, como os outros sócios contribuintes da creche.
Em março de 1984, realizamos um antigo sonho de contratar um professor de educação física para dar aulas nos dois núcleos da creche.
Em abril do mesmo ano, foi encaminhada a documentação necessária para a inscrição da entidade no Conselho Nacional de Serviço Social. A data oficial da nossa inscrição é 09/08/1984.
Nesse mesmo ano, a entidade conseguiu ter um abatimento nas contas de água e luz, pelo fato de ser entidade assistencial e de utilidade pública.
No dia 06 de maio de 1984 foi feita a eleição da diretoria e do conselho fiscal, assim constituído:
Presidente – João Peres; Vice-presidente – Moacyr Bulgatti; 1º Secretário – Franklin Bueres; 2º Secretário – Sônia M.B. Savarezze; 1º Tesoureiro – Osvaldo da Silva; 2º Tesoureiro – Luiz Oliveira; Diretora Social – Rosa Maria R. Zuccolo; Diretor de Patrimônio – José Anito Lourenço.
Conselho – Efetivos: Rosa D. Miguel; Thereza Galvão e Geraldo Bueres.
Suplentes: Geraldo Lacerda e Nelcy Otoni.
Essa gestão teve muito trabalho com a finalização do processo de uso do terreno da Av. Gal. Mac Arthur e a construção do novo prédio, sua fiscalização e os problemas financeiros inerentes à obra. Ao findar a gestão, a obra já estava quase concluída.
Em 05 de maio de 1986 foi feita a eleição da nova diretoria e conselho fiscal, assim constituído:
Presidente – Franklin Bueres; Vice-presidente – Rosa D. Miguel; 1º Secretário – Thereza Galvão; 2º Secretário – Nelcy Otoni; 1º Tesoureiro – Osvaldo da Silva; 2º Tesoureiro – Sônia Savarezze (que pediu demissão em agosto e foi substituída por Ely Pereira); Diretora Social – Rosa Maria Zuccolo; Diretor de Patrimônio - Luiz Oliveira.
Conselho – Efetivos: João Peres; José Anito Lourenço e Sidney de Godoy.
Suplentes: Moisés Maschio e Roberto de Carvalho.
Foi outra gestão bastante trabalhosa com a finalização da obra do novo núcleo, a falta de convênio com a Prefeitura, a mudança da creche, a construção e a reforma na Rua Frei Paulo de Sorocaba e todos os problemas financeiros acarretados por isso tudo.
Em dezembro de 1986 a entidade conseguiu a isenção do ISS.
Em março de 1987, conseguimos assinar o convênio PROFIC, com o governo do Estado.

Depoimento de Maria Helena da Silva

“Cheguei a Creche Madre Camila trazendo a minha filha para ser matriculada. Depois de três anos eu recebi um convite da Naifa para substituir uma pessoa que saiu. Eu fui com a cara e a coragem, estou aqui até hoje e muito bom. Um dia a Rosa me falou “Helena você não gostaria de voltar a estudar”? Volte a estudar e se prepare para prestar vestibular. Nós vamos te ajudar a pagar a faculdade. Eu nem acreditei! Conversei com a Carmen que estava morrendo de medo de não passar no vestibular, e ela me respondeu: “Você acha que Deus dá a graça pela metade”? Então fiz vestibular e passei. Voltei pra creche e fui falar com a Rosa: “Era pra valer aquela sua promessa”? Rosa respondeu: “Era sim.” “Então pode me dar o dinheiro da matricula, que eu já fiz e já passei.” Foi um dia muito feliz e muito marcante na minha vida. Algo que eu não esperava que fosse fazer parte da minha vida e agora faz. Hoje sou uma pedagoga e diretora da Creche Madre Camila II .”

CAPÍTULO III – A PRIMEIRA MULHER NA DIRETORIA DA ENTIDADE

1 – OS ANOS ENTRE 1988 E 1994
No dia 06 de maio de 1988 foi eleita a nova diretoria e conselho fiscal, assim constituído:
Presidente – Rosa Maria Rossetti Zuccolo; Vice-presidente – João Peres;  1º Secretário -  Thereza Galvão; 2º Secretário – Franklin Bueres; 1º Tesoureiro – Osvaldo da Silva; 2º Tesoureiro – Ely Pereira; Diretor Social – Nelcy Otoni; Diretor de Patrimônio – Romeu de Moura.
Conselho – Efetivos: Rosa D. Miguel; Roberto Carvalho e José Anito Lourenço. Suplentes: Rosana Rosa Gomes e Aparecida N.Cantoni Rosa.
A Rosa Maria foi a primeira mulher (e a única, até hoje) na presidência da entidade. Ela já havia sido indicada pelo primeiro presidente (Antonio C.Galvão) para assumir a presidência em 1980, mas alguns membros da diretoria impugnaram a sua candidatura, dizendo que não seria bom ter uma mulher nesse cargo. Eram outros tempos.
As mulheres foram, aos poucos, conquistando seu espaço. As grandes mudanças são feitas de muitas pequenas mudanças. Cada pequena vitória de um sexo é vitória de todos e vai preparando a humanidade para um convívio mais igualitário, mais pleno e mais feliz entre homens e mulheres.
Em outubro de 1988, a entidade teve a isenção do imposto predial do núcleo I. No mesmo mês conseguimos o aditamento da Secretaria do Bem Estar Social, passando de 70 para 100 crianças de creche e a creche volta para a Rua Frei Paulo de Sorocaba, com a conclusão do prédio de trás e a reforma da casa da frente.
Contando com as crianças da creche e as do centro da juventude, tínhamos um total de 210 crianças (e um convênio para 200).
Como a rotatividade de funcionárias era grande, aproveitamos para ir contratando pessoas com um nível de escolaridade maior e, com isso, houve uma boa melhoria na parte pedagógica da entidade.
Na reunião da diretoria do início de maio, foi feita uma homenagem ao Sr. Aldo Rossetti, falecido no dia 08 de dezembro de 1989. Uma foto sua foi colocada na sala da secretaria da sede da entidade, ao lado da foto da fundadora, Madre Camila.
No dia 10 de maio de 1990 houve nova eleição de diretoria e conselho fiscal, assim constituído:
Presidente – Rosa Maria R. Zuccolo; Vice-presidente – João Peres; 1º Secretário – Thereza Galvão; 2º Secretário – Rosa Domingues; 1º Tesoureiro – Osvaldo da Silva; 2º Tesoureiro – Rosana R.Gomes; Diretor Social – Nelcy Otoni; Diretor de Patrimônio – Roberto de Carvalho. Conselho – Efetivos: Aparecida C. Rosa; Romeu de Moura e José Anito Lourenço. Suplentes: Aldo Luiz Rossetti e Hudson Maia.
Sempre houve uma preocupação da diretoria de atrair mais pessoas da comunidade do Jaguaré para atuar na entidade. No ano de 1990, algumas catequistas da paróquia São Francisco vieram dar catequese para as crianças do Centro da Juventude e mais pessoas da comunidade começaram a nos ajudar nas festas, promoções e bazares.
Uma coisa que logo aprendemos quando atuamos em lugares onde circulam muitas pessoas é que nunca se para de fazer manutenção, construções e reformas. No período entre 1990 e 1992 tivemos que trocar vários pisos, cimentar outra vez os pátios, reformar o telhado da casa da sede e fizemos a cobertura de uma parte do pátio do núcleo I, para dias de chuva e dias de festa.
No dia 14 do mês de maio de 1992 tivemos eleição de diretoria e do conselho fiscal e repetimos a mesma chapa de 1990.
Em julho de 1992 conseguimos a isenção da taxa de INSS patronal.
Em dezembro de 1992 encerramos o convênio de centro da juventude com a Prefeitura e pedimos um aditamento para mais cem crianças de creche.
Só em dezembro de 1993 é que foi assinado o aditamento para as outras cem crianças. O ano de 1993 foi um ano muito difícil, pois tivemos que manter o Núcleo II sem a verba da Prefeitura. Fizemos muitos contatos políticos para conseguir o aditamento. O vereador Odilon Guedes e o prefeito Salin Curiati nos ajudaram nessa empreitada. Tivemos, também, a ajuda do programa CEMAS, do governo do Estado e de muitos colaboradores e amigos que nos socorreram.

Depoimento de Carmen Sílvia Moreira de Lima

“Eu estava recém casada, desempregada e trabalhava de eventual numa escola estadual onde trabalhava também a Nanci, na época muito amiga. Um dia ela comentou sobre umas mudanças que teria que fazer na creche e que a coordenadora que só trabalhava meio período, tinha que ser substituída por uma que trabalhasse período integral. E eu foi trabalhar lá. Entrei no Núcleo I e fiquei um ano como coordenadora pedagógica. Depois a Naifa pediu que eu fosse para o Núcleo II. E ai fiquei três anos como coordenadora pedagógica. A Nanci saiu da creche e a Rosa Maria me fez o convite de assumir a direção, pois a Naifa estava se aposentando. Cheguei a creche em 1994 e onde estou a 17 anos.” 

CAPÍTULO IV – AS DIFICULDADES FINANCEIRAS VOLTARAM

1 – O PER-CAPITA DIMINUI
Em 14 de maio de 1994 a diretoria e o conselho fiscal eleitos foram:
Presidente – Osvaldo da Silva; Vice-presidente – João Peres; 1º Secretário – Thereza Galvão; 2º Secretário – Rosa Domingues; 1º Tesoureiro – Rosana R. Gomes; 2º Tesoureiro – Aparecida C. Rosa; Diretora Social – Rosa Maria R. Zuccolo; Diretor de Patrimônio – José Peres Junior.
Conselho – Efetivos: José Anito Lourenço; Roberto de Carvalho e Antonio Vilar de Araújo. Suplentes: Tabajara Ludgero de Souza e Giovanni Rosa.
Em 1995, tivemos outro período muito difícil. Em agosto, a Prefeitura nos notificou que o per-capita passaria de 96,00 para 76,00 cruzeiros novos. Foi uma situação inédita, nunca antes tivemos uma diminuição de per-capita. Isso provocou um grande déficit orçamentário e tivemos que reduzir gastos, inclusive dispensando três funcionárias.
Depois de muitos problemas com os diversos escritórios de contabilidade que trabalharam conosco, em setembro de 1995 contratamos o escritório de contabilidade “Charman” (Ana Maria), que faz nossa contabilidade até hoje.
Começou em novembro de 1995 a ameaça da Prefeitura de tirar das creches as crianças de 04, 05 e 06 anos e envia-las para os EMEIs (Escolas municipais de ensino infantil). Como, até hoje, não existem EMEI´s suficientes em algumas zonas da cidade a ameaça ainda não se concretizou, mas estamos caminhando para isso.
Em 06 de maio de 1996 a diretoria e o conselho fiscal eleitos foram:
Presidente – Osvaldo da Silva; Vice-presidente – João Peres; 1ºSecretário – Thereza Galvão; 2º Secretário – Rosa Domingues; 1º Tesoureiro – Rosa Maria R. Zuccolo; 2º Tesoureiro – Aparecida C. Rosa; Diretora Social – Rosana R. Gomes; Diretor de Patrimônio – José Peres Junior.
Conselho – Efetivos: José Anito Lourenço; Antonio Vilar de Araújo e Giovanni Rosa. Suplentes: Renato Zuccolo e Antonio Galvão.
As manutenções e reformas ocuparam a atenção da diretoria em 1996. Construímos um banheiro na parte superior do prédio do núcleo II e fizemos a divisão de duas salas que eram muito grandes. Tivemos, também, que trocar todo o forro da casa da sede da entidade. O forro de madeira foi substituído por material acrílico.
Em 1997, a entidade entrou para o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (SEMETRA) e conseguiu a isenção de IPTU do núcleo II.
Em fevereiro de 1997, a Pro-Vida fez a doação de equipamentos e de uma brinquedoteca para o núcleo II da entidade. Na década de 80, foi o núcleo I que foi beneficiado pela Pro-Vida.
Em 06 de maio de 1998 a diretoria e o conselho fiscal eleitos foram:
Presidente – João Peres; Vice-presidente – Osvaldo da Silva; 1º Secretário – Thereza Galvão; 2º Secretário – Rosa Domingues; 1º Tesoureiro – Rosa Maria R. Zuccolo; 2º Tesoureiro – Aparecida C. Rosa; Diretora Social – Rosana R. Gomes; Diretor de Patrimônio – Renato M. Zuccolo.
Conselho – Efetivos: Maria Vitória Fogaça de Almeida e Horácio Pedrosa Pedro. Suplentes: Cristina A. Pedrosa Pedro e Giovanni Rosa.
Nesta gestão 1998/2000 podemos destacar a modernização administrativa, com a implantação de computadores nos dois núcleos e o projeto “Brinque- Odonto”, desenvolvido por estudantes de odontologia  da UNIP (Universidade Paulista), sob o comando da professora Dra. Divanita Salto.
No dia 07 de maio de 2000 a diretoria e conselho fiscal eleitos foram:
Presidente – João Peres; Vice-presidente – Osvaldo da Silva; 1º Secretário – Thereza Galvão; 2º Secretário – Rosa Domingues; 1º Tesoureiro – Rosa Maria R. Zuccolo; 2º Tesoureiro – Aparecida C. Rosa; Diretor Social – Rosana R. Gomes; Diretor de Patrimônio – Horacio Pedrosa Pedro..
Conselho – Efetivos: Ma. Vitória F. de Almeida e Mario Furegati.
Suplentes: Cristina A. Pedrosa Pedro e Giovanni Rosa.
No segundo semestre de 2000, a Prefeitura decreta que as creches só deviam atender crianças até quatro anos, mas o novo Prefeito eleito revoga o decreto e determina que as creches continuem atendendo crianças até 06 anos e 11 meses (decreto de fevereiro de 2001).



A partir do ano de 2000, os funcionários da “Colgate-Palmolive” passam a realizar a festa do dia da criança (outubro), para os dois núcleos da creche. É uma linda festa, que eles fazem até hoje, e onde as crianças se divertem com números circenses, barracas de comidas e refrigerantes e recebem belos brinquedos.
Iniciamos o ano de 2001 com sérios problemas. A administradora do Núcleo I e mais cinco funcionárias tiveram que ser despedidas, por serem causadoras de problemas graves no funcionamento da creche e tivemos que fazer uma reestruturação completa no quadro de funcionárias e na rotina de funcionamento.
A funcionária Carmen Sílvia Moreira de Lima, que era coordenadora pedagógica do Núcleo II e trabalhava conosco desde março de 1994 passou a ser a administradora do Núcleo I. A Naifa Rufatto passou a ser a administradora geral e muito nos ajudou na reestruturação necessária.

Depoimento de Simone Pereira Santos Nascimento ex-aluna

“Entrei na creche como aluna, nos anos 90, tive muitos e maravilhosos professores e foi com elas que aprendi tudo que sei. Desde época de creche foi muito bem acompanhada por elas. Quando minha mãe foi para maternidade dar a luz a minha irmã mais nova, as tias da creche, como eram chamadas antigamente, levaram a mim e as minhas irmãs para suas casas e lá ficamos até que minha mãe voltasse para casa. Na creche era tudo muito legal. E como diz o ditado “A boa filha a casa torna”, hoje sou estagiaria do CIEE na creche, a mesma creche que ficava quanto criança. A diretora é a tia Helena, como eu a chamava e ela ainda me chama de preta, como quanto me chamava em criança. É muita felicidade pra mim, mesmo lugar que brinquei tanto agora sou professora.”