História da Creche Madre Camila
segunda-feira, 17 de março de 2014
domingo, 5 de junho de 2011
CAPÍTULO I – O INÍCIO DA CRECHE
Madre Camila era uma freira italiana que, vindo como missionária para o Brasil, impressionou-se com a miséria e o abandono das crianças no nosso país. Era freira da Congregação das Filhas de Nossa Senhora do Sagrado Coração. Aqui chegou em 1940 e, por não querer deixar seu trabalho em São Paulo e voltar para a Itália, desligou-se da Congregação em 1950.
Teve que trabalhar como doméstica para poder se sustentar, mas não deixou de fazer o trabalho de evangelização e assistência. Em 1955, uniu-se a uma outra freira e começou uma casa de assistência às crianças carentes, na Vila Olímpia. Ao ser despejada da casa em 1967, foi para uma humilde casinha, emprestada a ela pelo pároco da igreja de Nossa Senhora Aparecida, na Vila Carioca, no bairro do Ipiranga.
No início dos anos 70, Níria Guimarães Ramos penalizada com as dificuldades de Madre Camila, que cuidava sozinha de 26 crianças, decidiu ajudá-la. Levou a ex-freira para a casa onde hoje é a sede da entidade, Rua Frei Paulo de Sorocaba, 164. As pessoas do bairro passaram a cooperar com ela e a situação das crianças melhorou. Mas, no início de 1975, Madre Camila sofreu um derrame e ficou impossibilitada de continuar sua obra.
Testemunho de Níria Guimarães Ramos
"Quando entrei naquele barraco de favela e vi aquela senhora, com uma grande aura de santidade, cercada pelas crianças que ela amava, compreendi que tinha sido Deus que me havia conduzido para lá e que eu teria a missão de ajudá-la"
1 – A CONSTITUIÇÃO
No início do ano de 1976, um grupo de jovens que se reunia no Colégio Anchietanum (dos Jesuítas), no bairro do Sumaré, na cidade de São Paulo, foi convidado a passar o dia numa confraternização com jovens de outros bairros. Esta se realizou num clube de golfe do bairro do Jaguaré. Quando a confraternização terminou, havendo sobrado muito alimento, os jovens do Anchietanum resolveram perguntar se tinha um asilo ou orfanato por perto. A pergunta foi feita numa padaria que fica na esquina da Avenida Corifeu de Azevedo Marques com a Rua Frei Paulo de Sorocaba. A resposta foi que naquela mesma rua havia uma creche que estava passando por necessidades. Ao se dirigirem a esta creche, os jovens ficaram impressionados com o estado de abandono das crianças e da casa.
Ao chegarem de volta ao colégio, encontraram um sacerdote reunido com diversos casais para uma reflexão da Bíblia. Os jovens sugeriram aos casais que fossem visitar a creche, que estava precisando muito de ajuda.
Eles foram e constataram que a fundadora, Madre Camila, havia sofrido um derrame cerebral e, por estar toda paralisada, tinha sido levada para um asilo em Divinópolis (Minas Gerais).
A creche tinha ficado nas mãos de duas empregadas domésticas que ajudavam a freira. Estas eram pessoas muito simples e uma estava bem desequilibrada mentalmente e teve que ser internada na psiquiatria do Hospital das Clínicas. Por estas limitações e sem ajuda financeira, elas não estavam conseguindo cuidar direito das crianças. As crianças órfãs tinham sido retiradas pela Assistência Social municipal e muitas mães retiraram seus filhos. Só ficaram cerca de quinze crianças, cujas mães eram empregadas domésticas e moravam com os patrões, que não queriam as crianças em suas casas.
O prédio estava em péssimo estado de conservação e a água usada era de um poço que estava contaminado. As crianças estavam desnutridas, anêmicas, com verminose, piolhos e sarna. Faltava comida, móveis, utensílios e roupas.
O grupo de casais se organizou e, no dia 13 de maio de 1976, realizou uma Assembléia Geral para a constituição oficial da “Creche Madre Camila”. A ordem do dia da assembléia era a leitura, discussão e aprovação dos estatutos, a eleição da primeira diretoria e do conselho fiscal (para um biênio).
Com exceção do presidente, todos os outros membros da diretoria e do conselho eram pessoas da comunidade do Sumaré.
A diretoria foi assim constituída:
Presidente – Antonio Costa Galvão; Vice-presidente – Maria da Gloria Penna Kondziolka; 1ª Secretária – Maria Antonieta Fanelli de Almeida Campos; 2ª Secretária – Maria Enid Penteado Buschinelli; 1ºTesoureiro – Custódio F. R. de Aguiar Vas; 2º Tesoureiro – Inês Aparecida de Aguiar Vas; Diretor social – Felix Saverio Majorana; Diretor de patrimônio – Lineu Marcos Otoni.
No Conselho Fiscal estavam os efetivos Nelcy José Otoni, Maria Celeste Otoni e Suely Campos Otoni e como suplentes José A. Buschinelli e Ma. Helena Brandão Majorana.
A primeira secretária salientou na ata que foi o espírito cristão que moveu esse grupo de pessoas a amparar e dar formação aos menores desprovidos de recursos.
Depoimento de Antonio Costa Galvão
"A creche aconteceu como quase todas as coisas na minha vida, sem esperar. Nós já estávamos em casa, praticamente dormindo, quando tocou o telefone e eram os nossos compadres Maria Enid e Buschinelli. Eles me perguntaram se eu queria ser presidente de uma creche falida. Quando eu fui conhecer a creche só pensei que precisava ajudar. Só via as dificuldades e o que tínhamos que fazer. Por que se eu fosse medir as dificuldades, eu não teria aceito." |
Depoimento de Teresa Galvão
2 – ENFRENTANDO AS DIFICULDADES
A diretoria passa a freqüentar a creche para ir fazendo um reconhecimento da situação e ir priorizando os itens mais importantes para o bom funcionamento da creche.
Ficou estipulado, já que a entidade não tinha nenhuma espécie de convênio público ou ajuda particular, que seriam os próprios sócios fundadores que manteriam a creche. De início, cada um daria Trezentos Cruzeiros e depois passariam a dar Cinqüenta Cruzeiros mensais. Cada sócio fundador deveria arrumar outros sócios contribuintes.
Outra prioridade foi entrar em contato com a proprietária do imóvel, Níria Guimarães Ramos, para pedir uma prorrogação do contrato de comodato.
Havia necessidade de vários móveis e utensílios domésticos e era preciso reformar a casa. As reformas mais urgentes eram o fechamento da fossa, a ligação dos canos de água e esgoto, a reforma da rede elétrica e hidráulica, a reforma do telhado, a adaptação da edícula para ser a moradia da nova governante contratada e a pintura do prédio todo.
Algumas diretoras e voluntárias assumiram a tarefa de fazer um acompanhamento do funcionamento da creche e as compras semanais necessárias.
No dia onze de agosto de 1976, o conselheiro espiritual da entidade, Pe. Walmir Brandão celebrou a primeira missa nas dependências da creche, pedindo as bênçãos de Deus para as crianças e a instituição.
O número de crianças começou a crescer e, como a creche só tinha uma governante, uma cozinheira e uma faxineira, não havia quem desse uma atenção maior para as crianças e organizasse atividades recreativas e pedagógicas.
Depois que foram tratados os assuntos mais urgentes referentes aos cuidados com a saúde e alimentação das crianças e aos cuidados com a casa e equipamentos, constatou-se que a creche era somente um depósito de crianças.
Essa não era só a situação da creche Madre Camila. As creches particulares conveniadas coma Prefeitura começaram a existir na década de setenta e, por isso, nem as entidades e nem a Prefeitura sabiam bem como deveria funcionar uma creche.
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